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TEMPO DE COLHER

O Programa de Formação em Vigilância do Óbito Materno, Infantil e Fetal e Atuação em Comitês de Mortalidade, desenvolvido por meio de cinco cursos oferecidos aos profissionais de saúde e membros de comitês, pode ser considerado uma experiência exitosa. Foi bem avaliado, em vários aspectos, pelos alunos e tutores que participaram dessa jornada, que envolveu a formação de mais de 2.500 alunos de todas as regiões do Brasil. A magnitude do desafio e o esforço para a sua realização buscaram dar respostas para o enfrentamento do problema, sobretudo nas regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos.

Olhar para trás, ao final de todo o processo, nos remete ao incansável trabalho de equipe que resultou na formação de uma rede de apoio aos processos formativos, permitindo o fortalecimento das relações que sustentaram a iniciativa e produziram um conjunto de resultados.

alunos formados na Região Nordeste e Amazônia Legal alunos formados nos municípios do interior orientadores de aprendizagem tutores formados alunos 3.570 iniciaram os cursos municípios 891 brasileiros 54,2% 67,1% 9 101 alunos 2.582 formados

Alunos formados por oferta

0%
20%
40%
60%
80%
100%
alunos formados
alunos que não concluiram

Distribuição dos municípios de residência dos alunos formados

Fonte: CDEAD/ENSP/Fiocruz (2016).

Perfil dos alunos formados

Profissão

Áreas de atuação

A quase totalidade dos alunos formados pelo programa é constituída de profissionais do SUS, que atuam na execução das ações de vigilância ou na assistência à saúde, fato que fortalece a ideia de que o trabalho coordenado e integrado dessas áreas é condição importante para o desenvolvimento de ações efetivas para o controle da ocorrência do óbito materno, infantil e fetal.

AVALIANDO A EXPERIÊNCIA

EAD: uma nova ferramenta da educação
Eulália Costa*

A educação a distância veio para valer,
No caminho da educação conquistar você!
Participam desta modalidade de ensino: o aluno aprendiz, o docente tutor
E a tecnologia com seus representantes em potencial: o computador e a internet
Companheiros sem igual!

Tudo isso para você, sem você precisar sair do lugar
É só estudar e acreditar
No futuro que tens a alcançar!
Estes atores promovem interação,
Onde a disciplina e a organização devem ser qualidades a serem respeitadas
Para o conhecimento poder ampliar
Venha comigo essa máxima divulgar!

Seja no trabalho, ou em casa
Na sala, no quarto ou na cozinha
A EAD estará sempre com você
A qualquer hora, onde você estiver
É a EAD com tutoria de saber, relatos e amizades podes crer
Transpõem a linha do conhecimento
Com a necessidade de inclusão digital
Para tudo ficar legal!

Esta é a nova ferramenta da Educação,
Com conteúdo de excelente qualidade
Tutores e acompanhamento pedagógico com dedicação e você sempre em construção
Então, digo-lhe amigo para completar esta nova era da Educação

*Aluna e posteriormente tutora do programa (Maranhão/Brasil).

A avaliação nas ações de saúde e de educação torna-se imprescindível para entender, aperfeiçoar e orientar as atividades planejadas e desenvolvidas. Nos processos formativos vivenciados nos cursos, ela foi parte integrante da proposta pedagógica, sempre comprometida com o desenvolvimento dos alunos e de sua capacidade de participar na transformação de sua realidade.

A avaliação como uma ação formativa e contínua abrange diferentes aspectos:

Os cursos foram avaliados por alunos e tutores, ao final de cada oferta, por meio de questionários específicos organizados no Sistema de Avaliação On-line (SAOL) O Sistema de Avaliação On-line (SAOL), desenvolvido pela EAD/ENSP, faz interface com o ambiente virtual de aprendizagem Viask e possibilita a criação de questionários adequados à proposta pedagógica do curso. da EAD/ENSP, num total de:

Depoimentos dos tutores
“Foi a minha 1ª experiência como tutor de EAD; tudo foi novidade e me levou a refletir sobre como esse modelo de ensino pode ajudar a mudar o perfil epidemiológico da população brasileira.”
“[...]. Mudança mesmo é a que vejo em meu desenvolvimento como tutora na proposta pedagógica da ENSP/Fiocruz, com todo o apoio pedagógico e a filosofia de formação continuada. Tem sido muito enriquecedor como docente e enfermeira.”
“As indagações, colocações e inquietações dos alunos inspiram muitas reflexões e pesquisas da minha parte como tutora, resultando na construção de conhecimentos novos e leitura crítica dos serviços de saúde. Na prática pedagógica observei o quanto é importante estimular os alunos com mensagens otimistas para que sigam bem-sucedidos ao longo do curso. Tive oportunidade de assim fazê-lo, com retorno positivo dos alunos de terem se sentido motivados”.
“O curso me fez mudar muito a minha prática profissional, principalmente por ser da vigilância, em relação à análise da vulnerabilidade.“
“Aprendi muito. Tanto em relação aos conhecimentos teóricos como à realidade de diferentes lugares e cidades. Aprendi a ouvir e entender e a valorizar a experiência que o aluno traz (sua vivência de vida e profissional). Percebi que a aproximação com os alunos não precisa ser pessoalmente, virtualmente também funciona bem.”
“O curso me proporcionou novos horizontes na prática pedagógica de EAD. Hoje sinto-me de fato uma tutora e posso dizer que cumpro com o papel da mediação. Além disso, me impulsionou para mudanças no âmbito do meu trabalho, na perspectiva da redução da mortalidade materna, fetal e infantil.”
“Com o curso aprendi uma forma de avaliar voltada para o aluno e seu processo de desenvolvimento de aprendizagem. Passei a ter um critério mais qualitativo, que me possibilitou enxergar além de respostas esperadas, mas para a aquisição do conhecimento pelo aluno [...].”
“Reavaliei muitos conceitos a partir da releitura do caso e do conteúdo teórico; mudei a forma de dar respostas prontas, para ocupar mais uma posição de questionamento diante delas, instigando em mim a reflexão crítica.”
“[...] Entender que os alunos têm realidades e experiências de vida diferentes é fundamental. Considero uma grande mudança a avaliação formativa que com certeza contribuirá na minha prática pedagógica.”
“Está sendo mais uma experiência muito importante para o meu crescimento pessoal e profissional; me permitiu fazer uma avaliação e valorizar a importância dos cursos na modalidade educação a distância. Aprendi a mediar os conflitos, ser motivadora, facilitadora, articuladora e principalmente saber valorizar o conhecimento/experiência prévia dos alunos frente ao conteúdo abordado.”
“Observei que a aprendizagem não é igual para todos. Uns evoluem mais que outros, porém todos aprendem de seu jeito ou maneira, sempre assimilando um pouco do conteúdo.”
“Este curso foi minha primeira oportunidade de atuação como tutora, porém pude compreender o processo de avaliação como forma de acolhimento e interação com o aluno. [...] Pude, no decorrer do curso, aprimorar minha conduta e possibilitar a construção de um ambiente de aprendizagem com trocas de ideias e com a construção coletiva do saber que se dá efetivamente com a interação entre tutor e aluno [...]. ”
“Creio que sofri grandes mudanças na minha prática pedagógica pois exigiu mediação na perspectiva coletiva e na perspectiva individual fez com que refletisse e buscasse apoio na literatura sobre os diferentes processos de aprendizagem. Amadureci muito nesse processo, além de evoluir muito em minhas práticas.”
Depoimentos dos alunos formados
“Passei a olhar com mais atenção para toda a trajetória de atendimento materno-infantil. Como o preenchimento de fichas, condições de trabalho da gestante, tempo de espera dos atendimentos, referências e contrarreferências.”
“Com esses novos conhecimentos adquiridos foi possível colocar em prática e formar um comitê atuante no hospital em que trabalho, com equipe multiprofissional, que antes não passava de um comitê simbólico.”
“Entendimento da dinâmica do funcionamento de um GT e comitê de mortalidade.”
“Pensar melhor na participação da sociedade civil nas discussões do comitê.”
“Houve um aprimoramento nas minhas práticas. Como exemplo, as investigações; não fazia adequadamente sem síntese, o comitê no meu município não era bem estruturado e hoje mudou todo o contexto, temos câmara técnica e discutimos os casos em reuniões, com recomendações para melhoria da assistência prestada.”
“Consegui aprimorar meus conhecimentos em relação ao funcionamento dos comitês de mortalidade e análise dos óbitos. Um mundo novo se abriu diante dos meus olhos no decorrer do curso.”
“...a melhor mudança foi a forma de encarar o preenchimento da ficha de investigação de óbito. Antes era preenchida pelo plantonista no dia do óbito e, após o curso, a ficha tem sido investigada de forma mais adequada por participantes do comitê. Tivemos que negociar prazos de entrega de prontuários com o setor responsável, porém acredito que o saldo será positivo. Vamos começar a nos reunir trimestralmente para começar a discutir os óbitos dentro da instituição e oportunidade de melhoria nos processos com as informações obtidas nessas investigações.”
“Na prática, auxiliou na organização da vigilância do óbito e composição do comitê de mortalidade no município.”
“Melhorou a sensibilidade para identificar fatores relacionados à atenção materna, infantil e fetal. Consigo identificar algumas situações de risco e incentivar os colegas da vigilância a ficarem atentos.”
“Preenchimento correto dos dados, pois quando não tinha feito o curso tinha dados que não sabia como iria preencher e também não tinha noção da sua importância.”
“O curso acrescentou muito em minha prática profissional, tanto como pediatra na assistência da atenção básica como no trabalho de investigação e análise dos óbitos pela VE e comitê de mortalidade. Exemplo: aprendizado da análise dos indicadores demográficos e socioeconômicos associado à análise dos serviços de saúde do município versus necessidade.”
“A maneira de analisar os óbitos ficou mais clara; por exemplo, preencher fichas e DOs não é mais de forma mecânica, e sim analisando todos os tópicos envolvendo toda a equipe de saúde.”
“Me deixou mais alerta às legislações que norteiam o nosso trabalho, o que ajuda a manter viva nossa opinião em um diálogo do comitê de mortalidade. Exemplo: Manual de Humanização preconizado pelo MS.”
“Depois que iniciei o curso e fiz levantamento dos indicadores do município, trouxe essa discussão para treinamento em reunião de equipe, chamando a atenção para o compromisso de todos e, claramente, a busca ativa das gestantes e o olhar da visita domiciliar melhoraram sensivelmente.”
“Me trouxe a possibilidade de questionar com argumentos baseados em evidências e números.”

OFICINAS DE AVALIAÇÃO DOS CURSOS

Um processo contínuo e dinâmico, as Oficinas de Avaliação realizadas ao término dos cursos também ficaram documentadas como ricos momentos de compartilhamento de saberes e experiências.

Participaram desses encontros, representantes de toda a comunidade envolvida nesse grande desafio: vice-direção de ensino da ENSP, coordenadores do curso, profissionais da EAD, representantes do Ministério da Saúde, orientadores de aprendizagem, tutores-docentes e alunos.

A 1ª Oficina de Avaliação do Programa de Formação em Vigilância do Óbito Materno, Infantil e Fetal e de Atuação em Comitês de Mortalidade ocorreu em abril de 2014 e teve como foco a discussão do material didático e do processo de ensino e aprendizagem. Ela contribuiu, efetivamente, para revisão e ajustes dos conteúdos e das atividades, tendo em vista as novas edições de cursos que seriam ofertadas em seguida.

A 2ª Oficina de Avaliação, realizada em abril de 2016, teve como principal objetivo conhecer e socializar a contribuição que o programa trouxe para os profissionais envolvidos nesse processo formativo.

Para os alunos egressos, a proposta era avaliar como o curso ajudou em sua qualificação profissional. Eles destacaram a qualidade do material, com uma revisão ampla e atualizada sobre os diversos temas que influenciam os eventos de mortalidade materna, infantil e fetal e a metodologia adotada nos estudos de casos, que permitiu a contextualização do conhecimento de forma prática. Outro ponto relevante foi a ênfase dada ao capítulo sobre a invisibilidade do óbito fetal.

Apesar de os estudos sobre óbitos fetais propiciarem valiosas informações sobre as condições de saúde e assistência durante o pré-natal e o parto, a maioria dos estudos publicados enfoca o componente neonatal precoce e raramente as informações relativas às perdas fetais são pesquisadas e analisadas separadamente das mortalidades perinatal. Ressalto ainda o conhecimento sobre o processo da vigilância e a relevância dada ao investimento nos sistemas de informação para garantir o monitoramento dos dados e análise oportuna para a definição das prioridades no planejamento das ações.
Marley Carvalho Feitosa Martins, 2016, aluno do curso de aperfeiçoamento

Muitos alunos destacaram a importância de sua participação no curso, não só pela oportunidade de apreenderem o conteúdo, mas também por terem vivenciado um importante espaço de reflexão.

O curso promoveu importantes reflexões referentes à forma como é conduzido o ato de gestar e nascer nos diferentes municípios do país, em especial no município de Cuiabá. Possibilitou ainda o desvelar de questões que estão intimamente relacionadas à qualidade de vida e de saúde da mulher e da criança, considerando fatores relevantes, como seu perfil socioeconômico, fragilidade das redes de serviços e fragmentação das ações e dos serviços de saúde, relacionados com o modo de fazer e cuidar.
Laura Cristina, 2016, aluna de Mato Grosso

Para os tutores-docentes, buscou-se promover uma reflexão crítica sobre o exercício da docência e a contribuição dessa experiência em sua prática pedagógica, por meio de exposição dialogada e roda de conversa com apresentação dos pôsteres, oportunizando um debate ampliado com os demais participantes.

Na equipe de tutores-docentes, foi possível identificar como principais contribuições:
acolhimento e construção de vínculos com os alunos
mediação pedagógica
avaliação processual da aprendizagem
uso das TIC – tecnologias digitais da informação e comunicação
interação e comunicação na educação a distância
(com o material didático, em diálogo com os autores, interação com a turma de alunos, interação com a OA e tutores na turma OT, etc.)
reflexão e apontamentos das contribuições que a experiência da docência trouxe para sua experiência profissional
Para os alunos, por sua vez, as principais contribuições foram:
criação de um novo comitê
qualificação das ações
qualificação dos sistemas de informação
oferta de capacitação/ educação permanente
aumento da cobertura das investigações de óbito
qualificação das investigações de óbito

FRUTOS DO PROCESSO FORMATIVO

Sabemos que o resultado do que foi semeado no campo da formação é ainda pequeno, diante do desafio da redução da mortalidade materna, infantil e fetal no Brasil. Entretanto, a experiência demonstrou ser muito potente e trouxe frutos, atitudes e práticas, mensuráveis ou não. Fica, então, como desdobramento, a possibilidade de multiplicação da experiência e das discussões que construíram o processo formativo, por cada aluno, cada tutor, nos diferentes contextos, realidades e sotaques.

Foram apresentadas dezoito experiências na Oficina Final de Avaliação que, direta ou indiretamente, se relacionaram à participação dos alunos e tutores no Programa, o que traduz a essência da iniciativa, pautada no alinhamento entre teoria e prática.

Apresentação oral

Pôster

DISSEMINAÇÃO DA EXPERIÊNCIA

O processo de construção do material didático e o ensino da epidemiologia por meio da educação a distância foram temas apresentados pela equipe do Programa no XX Congresso Mundial de Ginecologia e Obstetrícia (Roma, 2012), no 7º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde (Cuiabá, 2016) e no X Congresso Brasileiro de Epidemiologia (Florianópolis, 2017), respectivamente.